quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

BEIJO DA VIDA


 
 
Espero o tempo, que ouves

onde a boca, com um peso árduo

te alimenta uma ideia de pedra

unida ao vento e espírito

lume ao longe, a sombra canta

variada dor, o barro, o trevo

carne presa e morosa.

És profundamente a pedra, a estrela

minha voz confundida com a tua

medida ingénua e cara, espaço triste

dom de inocência.

Começa o tempo

na insuportável ternura da urna

a morte que não beijo

um instante, a eternidade

somos o silêncio em luminosos cálices

a cerrada matriz… folha do vento

o aroma distancia-nos, serás uma árvore

onde existe o meu sangue.

Peço ao vento: traz a luz inocente

rios imaginados, na espuma

de auroras e crateras.

O tempo é bom e doce

trouxe em ti a vida enorme

os pontos paralelos, a palavra torno

aperto extremo nos centros do sistema

geral do corpo em todo o lado

no umbigo, no clitóris do devaneio

esmagado pelos capitais do devir.

O beijo agora dado, é para nunca acabar

mesmo que o mundo connosco se cruze

que a chuva inche o ego

bastará ancorarmos na pedra misteriosa

nos poucos fenómenos do fogo

fazendo cama nos buracos da incerteza.

O coração é semente inventada

dentro de nós, que nos olha em cheio

perante o espanto da lua

a entrar pelos séculos

esmigalhadas que estão as crianças em nós.