Espero o tempo, que ouves
onde a boca, com um peso árduo
te alimenta uma ideia de pedra
unida ao vento e espírito
lume ao longe, a sombra canta
variada dor, o barro, o trevo
carne presa e morosa.
És profundamente a pedra, a estrela
minha voz confundida com a tua
medida ingénua e cara, espaço triste
dom de inocência.
Começa o tempo
na insuportável ternura da urna
a morte que não beijo
um instante, a eternidade
somos o silêncio em luminosos cálices
a cerrada matriz… folha do vento
o aroma distancia-nos, serás uma árvore
onde existe o meu sangue.
Peço ao vento: traz a luz inocente
rios imaginados, na espuma
de auroras e crateras.
O tempo é bom e doce
trouxe em ti a vida enorme
os pontos paralelos, a palavra torno
aperto extremo nos centros do sistema
geral do corpo em todo o lado
no umbigo, no clitóris do devaneio
esmagado pelos capitais do devir.
O beijo agora dado, é para nunca acabar
mesmo que o mundo connosco se cruze
que a chuva inche o ego
bastará ancorarmos na pedra misteriosa
nos poucos fenómenos do fogo
fazendo cama nos buracos da incerteza.
O coração é semente inventada
dentro de nós, que nos olha em cheio
perante o espanto da lua
a entrar pelos séculos
esmigalhadas que estão as crianças em nós.