quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

MAMA


 
 
Eu estou aqui, até ao extremo
engolindo o desígnio, não me acusem
do precedente, da cama por abrir.

Mãe negra Afrika
grita…

Chora… faz um rio de lágrima aumentar
ao passar ao lado da cubata
as rugas do rosto
regos onde sementes germinam
raízes profundas gemem.


Os braços do mar, não são aqui
sai do teu canto escuro
ignóbil bem falante, prometes…

Se… E os porquês
onde me sento e medito

solidão para lá do horizonte
tal nostalgia, ausências presentes

entre morros, pôr do sol a tardinha.

Um sonho está a nascer
a aragem sussurra
Palavras incontidas, ter sem possuir.
 
Limpo o rosto no perdão.

 

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

PASMADOS DE KAZUMBI


 
 
Agora

Estamos pasmados e aterrados

Com o que vemos na cidade grande

Um chão estragado, uma pilha de livros

Abandonados

Há tantas estações.

 
O velho

Canta as coisas todas no seu cantar

Ninguém toca tambor

Ninguém dança.

 

No meio do povo, uma voz possante

Avisa que comida a mais faz

Corpo malcriado

As coisas nunca saem como planeado

Berrou ainda mais alto.

 

Mami tapa a cara com o xaile

Os sonhos na cabeça dela

Os medos à sua volta

É ali que vivem os famintos

Para morrer.

 

Se calhar um fenómeno

Da explosão demográfica

O ar está mais grosso

Há que respirar devagar

Uma coisa esquisita aconteceu

O menino morto voltou a viver.
 


É Kazumbi

Gritou a cidade toda

Numa só voz

Enquanto no mesmo dia

O Sol pôs-se sete vezes.

 

Ficámos todos como estátuas

A cidade a roubar-nos o espírito.