quinta-feira, 5 de junho de 2025

MARIMBONDO AFRICANO

 


procurei a vida

nos caixotes urbanos

resíduos

os olhos choram me

enchimentos com estilhaços

a cidade

agora

sentado na lavra

após diálogo

cego

quedámo nos mudos

perguntei receoso

mamâ não dizes nada?

sabendo que a resposta

seria um olhar longínquo

seco de lágrimas

como o solo

que pisamos

as nascentes

esgotaram suas águas

 na terra africana

calcinada pelos marimbondos

capacidade de picar

injectar veneno.


#KimdaMagna

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostei de ler.
Abraço!

José Félix

Anónimo disse...

Este poema carrega uma força e um peso imenso, evocando imagens de perda, silêncio e um diálogo interrompido pela dureza da realidade. Os marimbondos, com sua picada venenosa, tornam-se um símbolo da terra castigada, da vida que busca persistir entre escombros.

Há uma melancolia crua na pergunta dirigida à mãe, cuja resposta não vem em palavras, mas sim em um olhar distante e seco como o solo. Isso transmite não apenas dor, mas também a exaustão de quem já não tem lágrimas para chorar.

Anónimo disse...

Que poema intenso e visualmente marcante. Ele transmite uma sensação de desolação, de busca e de um silêncio pesado que carrega emoções profundas. A metáfora dos marimbondos—com sua capacidade de picar e injetar veneno—parece refletir não apenas a realidade física, mas também um impacto emocional e social.